quinta-feira, 19 de março de 2009

Prostituição e Democracia



A reunião começou com o argumento que gerou toda a discussão. No site do Trans-Missão, na parte de classificados, há uma clausula que proíbe o anuncio de relacionamentos sejam eles afetivos, sexuais, pagos ou não. Segundo o que foi levantado, essa clausula estaria sendo antidemocrática quando não permite o anúncio de profissionais do sexo, sendo a prostituição uma profissão como qualquer outra.

Sendo os profissionais do sexo, inseridos no Código Brasileiro de Ocupações, a clausula acaba provocando sim discriminação, o que causa uma enorme divergência entre os participantes do Terças e dividem as opiniões: será mesmo discriminatória?

Um dos argumentos levantados para defender a manutenção da cláusula é que já existem espaços em demasia para anúncios de prostituição para o mundo “trans”. Tendo o site o slogan: “o espaço para quem não tem espaço”, entendemos que quem não tem espaço são as travestis e transexuais que não fazem prostituição, e até as que fazem prostituição, mas mantém outras atividades e que não tem oportunidade de divulgá-las.

Fora levantado também à questão do distanciamento que há entre as pessoas trans que são profissionais do sexo para as que não o são, principalmente no grupo Terças Trans, que agrega também militantes. Levantaram-se questões sobre os porquês de não haver pessoas trans que fazem prostituição freqüentando o grupo e suas possíveis causas, mas todxs concordaram que há um abismo entre os dois grupos: as “trans” que não estão na prostituição e as que estão. Surgiu o argumento de que as profissionais do sexo mantém distancia do grupo por medo do discurso “antiprostituição” que teríamos. Uma parte do grupo discorda, outra assume.

Isso levou a discussão sobre a prostituição não sendo uma profissão que dignifique, tendo em vista que a pessoa humana seria tratada como “mercadoria”. Por outro lado, os Direitos Individuais merecem respeito, e isso pareceu consenso. Lemos alguns e-mails de participantes de outros estados que se fizeram presentes com suas opiniões. Claudia Wonder participou via e-mail se posicionando contra, não a pessoa que se prostitui, mas contra a prostituição “forçada” a que muitas pessoas trans são obrigadas a exercer por falta de oportunidades no mercado de trabalho. Sua posição é compartilhada pela maioria do grupo.

Se o discurso antiprostituição existir, não é um posicionamento do Grupo Terças Trans, mas sim fruto da liberdade de expressão do participante. Como sempre, procuramos combater o preconceito de todas a maneiras e não incentivamos nenhum tipo de ação preconceituosa seja de qualquer natureza. Por isso mesmo a discussão foi levada ao grupo e aberta ao público da maneira mais democrática possível.

Foram levantadas ainda as relevâncias da discussão, se ela não estaria sendo precipitada, tendo em vista que não sabemos se haverá uma procura pelo serviço de anúncios do site. De toda maneira, a discussão continua, pois o cerne não é a qualidade da demanda e sim a proibição de um tipo de oferta de serviço – o que seria discriminatório e antidemocrático – segundo quem defende a argumentação.

Foi pensada ainda uma alternativa onde na parte de classificados, tenha uma sessão de links com sites especializados em acompanhantes para que, a pessoa que quiser oferecer seus serviços sexuais possa usufruir destes espaços específicos. Ainda assim, foi levantada que esta alternativa gera mais segregação entre as “trans” e, portanto, não seria uma saída democrática.

Após muita discussão e alguns comentários flamejantes tivemos como encaminhamento consensual a seguinte iniciativa: entrará no ar, aqui no t-log interativo do Terças Trans, uma enquete onde participantes poderão votar on-line se a clausula será incluída ou retirada das regras de anúncio do Trans-Missão. Em outras palavras, se será permitido anúncios de profissionais do sexo, ou não, na parte de classificados. A enquete ficará no ar por 45 dias e dia 03 de maio daremos fechamento a essa discussão.

Mais uma vez reforçamos que o Terças Trans é um espaço que visa o combate a qualquer tipo de preconceito e sempre se posicionou de maneira democrática, portanto, todos têm direito a voz e ao debate. Para maio, o tema da terceira edição do Trans-Missão promete ser especial sobre prostituição.

Um comentário:

  1. oi gente!
    meu nome é Patrícia, eu trabalho no centro de referência em direitos humanos da grande florianopolis, também desenvolvemos trabalhos com as profissionais do sexo.
    Ma minha opinião (pessoal), o que deve ser levado em conta é a política do site. Se ele não é voltado para este tipo de anúncios, deve-se respeitar. Se o site for institucional ou representar algum projeto, deve-se levar em conta esta responsabilidade. imaginem se no site do centro de referência ou da ong onde trabalho, tenham anuncios de acompanhantes? isso descaracterizaa nossa missão.
    deve realemnte pensar nisso!

    beijos!

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