terça-feira, 31 de março de 2009

PROFISSIONAIS DO SEXO



Como todxs sabem, estamos fazendo uma votação aqui no T-Log para saber se manteremos ou não a cláusula que veta os anúncuios de relacionamento, inclusive pagos, na parte de classificados do site Trans-Missão.com. A cláusula gera polêmica e estamos buscando agir de forma democrática. Por isso mesmo, segue texto de Renatinha Rebello para ajudar na formação de opinião. Não esqueçam de votar na enquete ao lado, ela termina em 03 de maio!!


Tramita na Câmara Federal um projeto de legalização da prestação de serviços sexuais, o PLC 98/03, de autoria do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). A proposta, que pretende formalizar as relações de trabalho na prostituição, conta com o apoio da OAB e do Programa Nacional DST/Aids. E recebe a participação direta da Rede Brasileira de Prostitutas, da ONG Davida e da grife Daspu.

O simples fato de a maioria das travestis e transexuais brasileiras sobreviverem como profissionais do sexo já sinaliza que a militância trans tem o dever de apoiar inteiramente o projeto de lei.

Não se trata aqui de incentivar e recomendar a profissão. O que queremos é legalizar uma situação já existente. A prostituição precisa sair da clandestinidade, para que o Estado possa exercer sobre a atividade um controle sanitarista. E para que os direitos trabalhistas e previdenciários das profissionais sejam respeitados.

Entendo que o papel de uma militante deve ser o de buscar alternativas para a prostituição. Pois errado não é ser prostituta. Errado é não poder escolher.

No entanto, não é raro entre nós o discurso moralista de combate à prostituição. Várias trans defendem o seguinte: se queremos cidadania, então devemos nos comportar direitinho, como a sociedade deseja. Devemos ficar longe da indústria da libido. Do contrário a sociedade ficará escandalizada e não nos dará empregos.

Sendo assim, trabalhos de travestis para geração de renda acabam sendo apresentados com o fundo musical do moralismo. Almofadas coloridas e sabonetes artesanais tornam-se verdadeiros troféus contra a prostituição. E professoras e cabeleireiras trans viram heroínas da cruzada contra a “vida fácil”.

No século XIX, o filósofo e economista inglês John Stuart Mill falou uma coisa muito importante: “Existe, ao redor de cada ser humano, um círculo no qual não se deve permitir que entre nenhuma pessoa, nenhum governo, nenhuma ação autoritária”.

Neste momento, nascia no mundo a noção de direitos individuais. O tal círculo, de que fala o pensador, nada mais é que a esfera das escolhas subjetivas.

E ser profissional do sexo é uma opção individual e honesta, portanto legítima. Alugam-se corpos. Vendem-se sonhos. Qual é o problema?

Pois é pensando nos direitos do indivíduo e na democracia que quero aqui fazer uma autocrítica.

Ficou decidido entre nós que a seção de currículos do site Trans-missão não deveria incluir a oferta de serviços sexuais. Fui favorável à decisão, argumentando que o site deveria oferecer “espaço para quem não tem espaço” (e as profissionais do sexo já teriam sites mais adequados para anunciar seus serviços).

Por mais argumentos que tenhamos, percebo agora o quanto esta postura é elitista e excludente. Ao tentar manter os classificados sexuais bem longe de nossos currículos imaculados, estamos sim é aumentando o apartheid já existente entre a trans de pista e a trans escolarizada.

Portanto, humildemente mudo de opinião. Devemos anunciar os serviços profissionais de TODAS as travestis e transexuais, sejam quais forem, sem nenhum tipo de julgamento moral. Isto sim seria um site democrático.

E, para quem acha que ser profissional do sexo é o fim do mundo, apenas pergunto: além da prostituição, que outro cenário social dá às travestis a possibilidade da autoestima?

Em que outro contexto uma travesti consegue obter um elogio, um simples carinho?


__________________Renata Rebello

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