quarta-feira, 1 de abril de 2009

Cometário de Débora ao texto de Renata Rebello

Dando continuidade as discussões, segue um texto escrito por Débora - PE, dando sua opinião sobre o texto de Renata Rebello. Para saber mais sobre a discussão, veja o resumo da reunião do dia 17 - Prostituição e Democracia mais abaixo e se quiser participar, mande sua opinião para ser publicada no T-Log Interativo do Terças Trans!

Meninas,

Li o texto da Renata e o que posso dizer (além do que já expressei anteriormente sobre o tema da prostituição) é que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Uma coisa é a prostituição ser reconhecida como prática profissional, outra coisa é esse tipo de serviço ser oferecido no site.

Eu sou totalmente favorável ao projeto do Gabeira, mas eu não quero ver minha filha se prostituindo, como o Gabeira também não quer isso para a filha dele. Como já disse, a prostituição é uma prática desumanizante que transforma seres humanos em objeto de consumo. Eu não quero pra mim, não quero pra minha mãe, não quero pra minha filha e não quero para nenhuma de vcs. Desejo a todas nós as práticas profissionais que conduzem ao crescimento humano e não à vitrine do mercado de carnes.

Agora, quem quiser ser prostituta por opção ou necessidade tem mais é que ter o amparo da lei e todos os seus direitos garantidos! Só não banquem, pelamordedeus, a Sinhá Moça que acha feio fazer juízo de valor sobre a realidade que nos cerca. Isso é lindo na novela das seis, mas na vida real é o cúmulo da ingenuidade.

É legítimo fazer juízo de valor sobre as coisas, não se vive em sociedade sem isso. Juízo de valor é diferente de preconceito. Além disso, dizer que não devemos fazer juízo de valor já é em si mesmo um juízo de valor: o juízo de que tudo nos convém.

A Renata diz "além da prostituição, que outro cenário social dá às travestis a possibilidade da autoestima? Em que outro contexto uma travesti consegue obter um elogio, um simples carinho?". Meu anjo, desse tipo de carinho e elogio eu tou correndo. Auto-estima é querer ser tratada como gente. As vacas leiteiras premiadas também recebem muitos elogios e carinhos dos seus proprietários, pois são ótimas mercadorias. Esse é o lugar que lhes é conferido.

Por fim, não se misturam alhos com bugalhos. Uma farmácia vende medicamentos, não vende feijão nem pneus. E isso não é preconceito com os feijões e pneus, pois a farmácia tem seus produtos e serviços específicos. Nào faria sentido vender feijões e pneus na farmácia. Seria amador, ingênuo e demonstraria uma total falta de planejamtno do negócio. Se eu entrasse numa farmácia que vendesse, entre os medicamentos, feijão e pneus, não compraria medicamentos lá, nem que eu estivesse tendo um troço.

Só pra encerrar, não há porque termos horror ao mérito. Eu acredito muito no mérito e a universidade pública tem me ensinando o valor que o mérito tem. A universidade nào é o paraíso, tem seus problemas, seus vícios administrativos, suas panelinhas, mas na universidade a gente precisa ter mérito para conseguir as coisas. Quer uma bolsa de iniciação científica? Recupere as reprovações que constam no seu currículo! Quer apresentar um trabalho na semana da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência? Submeta seu trabalho à banca para aprovaçào ou reprovaçào. Quer expor os resultados da sua pesquisa como bolsista no evento do CONIC? Submeta o seu relatório final à banca para aprovaçào ou reprovaçào.

Não há razão para termos horror ao mérito e amor à coitadice, tratando as TS profissionais do sexo como coitadinhas que devem anunciar seus serviços no novo site senào morrem à míngua. Ora, o site é para oferecer serviços de profissionais que tenham formação em alguma área? Então pronto. Se o critério é esse, nào há pq oferecer sexo. Quer oferecer serviços no site? Então se forme em alguma coisa. O SENAC tá cheio de cursos! Ah! Mas tem o preconceito dos alunos, dos professores. Pois é, eu também tive que costurar um acordo com a universidade para manter minha identidade em sigilo, fui lá na direçao e dei a cara à tapa. Consegui o acordo e não tive que dar pra ninguém por conta disso. Tive que me expor, mas não morri. Tou vivinha. Ah! Também fui no exército tirar carteira de reservista pra fazer minha matrícula na faculdade. Vejam bem, eu, já toda mulher, tive que ir sozinha NO EXÉRCITO tirar carteira de reservista no ambiente mais homofó bico e transfóbico que se pode imaginar. E não morri. Então chega de amor à coitadice e tenhamos mais amor ao mérito, pois de coitadas nós nào temos nada. Aliás, um amigo meu sempre diz: "toda coitada é uma peste!"

Estabeleçam critérios para a oferta dos currículos, criem metas e não confundam democracia com a casa da mãe Joana.

É isso.
beijos,
Débora/Amanda

3 comentários:

  1. Muito lindo seu discurso, mais a realidade é outra...
    Nao existe mercado de trabalho suficientes para meia duzia imagina para todas....
    Equanto isso como pagamos as nossas contas, temo q comer, vamos roubar ????

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  2. Eu concordo com a Débora no comentário sobre a desvalorização da mulher, homem,travesti ou transexual que venda seu corpo por dinheiro, mas não é o que todos nós fazemos? Eu faço psicologia, por isso vendo meu cérebro e minhas orelhas ( e olheiras) pois preciso sobreviver; não vejo como um trabalho errado, nem que mereça compaixão ou pena, e sim, mais um trablho como qualquer outro; é claro que aos olhos da sociedade, vender sexo é algo muito complicado, pois a auto-estima de uma pessoa não deveria depender disso, já que é uma profissão que é desvalorizada no mercado de trabalho visto que nossa sociedade é moralista e o sexo é algo velado. Além de que o grande público da prostituição são homens que não estão realmente preocupados com a auto-estima da pessoa e sim se ela tem um pedaço de carne que possa favorecê-lo. É uma opção como qualquer outra. Apenas deve-se refletir a respeito; "será que não existe nenhuma outra opção?"

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  3. Kimberly, você leu o texto com atenção?

    "quem quiser ser prostituta por opção ou necessidade tem mais é que ter o amparo da lei e todos os seus direitos garantidos"

    Eu sou totalmente favorável ao reconhecimento da prostituição como profissão. É um direito. Cada um vive como pode ou quer.

    Agora, querer anunciar serviços sexuais no site, sou contra e está explicado no texto porque sou contra.

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